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terça-feira, 29 de setembro de 2009

'Simplicidade do pensamento.' - Por Junior Taz

Novela das oito: milhões de brasileiros acompanham a estória. Uns se identificam com o taxista gente boa, honesto, que ouve todo mundo e que cumpre seu dever com muito esforço, sem esquecer da honradez. Outras se colocam na pele da empregada doméstica, que, apesar de humilhada pela patroa, se manifesta de forma sagaz, mas acata as ordens por que tem necessidade de manter-se no emprego, e só por isso. Todos desprezam aquela socialite que apesar da aparência de mulher fina, é uma víbora, uma malvada que se atém a humilhar os empregados e passa o dia maquinando a manipulação. Também tem aquele cara que é esperto: suas maldades são por um bem geral (muitas vezes mais pelo seu próprio bem em geral!), mas o faz porque foi cooptado por um círculo maior de pessoas e idéias que o leva a cometer pequenas infrações ‘inocentes’. Ele será purificado até o fim da novela. Aliás, todos os malvados serão punidos, de uma forma ou de outra. Os bonzinhos vão padecendo até sua vitória final. Os que são mais ou menos bonzinhos ou malzinhos recebem punições ou prêmios de consolação (não nessa mesma ordem).

Pensamento simples. Rápida associação. Papéis definidos. Os Arquétipos. O bonzinho, o galã, a esperta, a modelo de beleza, o santo (sempre tentado!) os malvados, os que tem seu amor eterno impedido pelas circunstâncias... enfim. A articulação muda pouco. De uma novela pra outra, mudam-se os cenários, os atores (nem sempre mudam, é verdade), muda-se o autor, mas no fundo, tudo parece igual. A novela de sucesso é aquela que, mesmo depois de acabada, não se faz perceber cópia das anteriores. Uma vez percebida como cópia (rara exceção!), é tripudiada pelas revistas especializadas e pelo público (geralmente, nessa ordem).

Em geral, esse é o padrão da novela rádiotelevisiva. Algumas poucas coisas são alteradas, aqui e ali, na verdade, têm de ser poucas coisas justamente para que o público não estranhe. A novela começa, se desenrola e termina dentro de um padrão já conhecido. Escapar desse padrão é andar sobre um tênue limite entre o aceitável e o repugnante. Já se sabe o final da novela com muitos meses de antecedência, mesmo antes que ela comece, de fato. Já se imagina o perfil do personagem pelo ator a que lhe é designado. O público sim, faz a novela. Infelizmente sempre igual.

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Uma característica das novelas dessa primeira década do século XXI é que são feitas quase just-in-time (algo como ‘bem a tempo’, ou ‘na hora’), possibilitando a alocação de acontecimentos reais ao dia-a-dia da trama. Têm-se a impressão de que a novela está acontecendo ali, no Rio de Janeiro, que aquele assassinato no escritório do Doutor Fulano pelo pérfido assassino aconteceu enquanto o trabalhador estava fazendo o pesponto no sapato na fábrica, ou enquanto a dona de casa lavava a louça da tarde. A identificação vai acontecendo, a intimidade com os fatos se dá até pelo tempo de cada um. Reconhece-se o personagem enquanto ser impresso até no tempo do expectador. A vida e o tempo se copiam na novela.

Tal característica, a de ser feita just-in-time, também subordina o autor aos interesses do público. Os autores de novelas, em sua maioria, escrevem já num determinado padrão inclusive para a aceitação de seus trabalhos pelas grandes produtoras e emissoras de televisão. Sair muito do estilo da emissora pode acarretar a não aceitação da novela. Então, escrever quase ao mesmo tempo em que se filma gera uma pequena margem de manobra, porém, nada excepcional. O público, manifestando o desinteresse por um ou outro personagem, mostra que ele não está bem encaixado, que não está agradando. O autor tem tempo de tirá-lo, ou corrigi-lo. Então a margem é realmente pequena, o público também está acostumado com um determinado padrão de personagens, abrir demais para tipos “estranhos” ao estereótipo é andar sobre aquela tênue linha citada, e nem sempre compensa correr tal risco.

Olhando as novelas e o público por esse ângulo, vemos uma simbiose interessante. Ao mesmo tempo em que as novelas se produzem num estilo pouco alterado e alterável, o público as aceita nesse padrão e repudia as que não estão nele, forçando dessa forma que o padrão se repita na produção. A idéia é conservar. Que se mudem os espaços, os atores, os estilos dos personagens, mas que não mude muito. É sabido por todos que a inclusão de temas e personagens “diferentes” dos habituais também é característica dessa nova fase da produção de novelas. Personagens gays aparecem hoje, com mais freqüência, e têm mais aceitação que a dez anos atrás. Mas porque, se um dia tal personagem foi colocado na novela, não o foi de forma brusca. O personagem foi sendo lentamente aceito. A sociedade aceitou-o lentamente e hoje ele pode (e muitos dizem ‘devem’) aparecer na novela.

Se diz ‘a novela é um espelho da sociedade’. Uma vez que temos uma maior abertura para a discussão sexual inclusive no seio familiar (ou pelo menos aparentamos ter), a novela faz por onde para mostrar e reforçar tal discussão. Mas será que a ordem da frase citada no inicio desse parágrafo é aquela mesma? Será que não pode ser “a sociedade é um espelho da novela”? Uma coisa não invalida a outra. Na verdade, as duas se influenciam mutuamente. Mudanças acontecem lentamente em ambos os lados, e a aceitação é lenta da mesma forma. Dessa maneira, uma novela da década de 70, apesar de ter muitos elementos básicos em comum com as do princípio do século XXI já não é assistida pelo mesmo público que a escreveu. Valores mudaram, as pessoas e a sociedade mudou. Mas ainda há permanências, e talvez uma novela da década de 70 seja antes atual do que simplesmente nostálgica. A atualidade está mais na técnica que na temática.
[[[Fim da digressão]]]

É a partir desse momento em que os personagens também são construídos de forma simplista. Personagens complexos não cabem numa novela, que é um momento de descontração das camadas médias e populares. A complexidade é muitas vezes associada à leitura de um livro. Requer atenção. A novela não. No seu pulular de imagens e cenas, e em seu curto período diário de exibição (curto mesmo?), a atenção se dá muito mais no contexto do que nos detalhes. Um personagem não pode ser bom e mau ao mesmo tempo, não pode exibir características complexas, senão seu objetivo se dissipará em meio à desatenção dos espectadores. O embasamento moral do personagem está mais relacionado ao arquétipo do que à possibilidade dele ser um indivíduo real, em meio à relações reais, pressões e tensões reais. Ou o personagem exibe características fixas (ou pelo menos que suas alterações sejam esperadas!) ou então ele vai cair numa complexidade, e na justa falta de interesse daquela maioria que está assistindo à novela justamente para descansar a cabeça da complexidade da vida. Se não fosse por isso, estariam lendo um livro.

O cansaço mental produzido pelo dia-a-dia corrido da população não dá espaço para o exercício da complexidade intelectual. Espera-se o simples. Espera-se que a novela não canse ainda mais a mente do trabalhador. E o maniqueísmo pouco disfarçado nas novelas é justamente uma forma de simplificar o enredo e atrair os olhos cansados de uma população fatigada. Uma gota da história por dia, dezenas de personagem que orbitam em torno dos protagonistas (colocá-los em órbita é colocá-los num segundo plano, o que os condiciona ainda mais à arquétipos específicos). Os bonzinhos se protegem dos mauzinhos. Os maus serão punidos no final, os bons serão premiados. Lógica cristã. Nem sempre a lógica da vida real.

Mas a vida real é muito complexa. Pessoas que parecem ser tão boas são eleitas para cargos representativos e lá se mostram corruptas (representariam então a tendência à corrupção dos que os reelegem? Fica em aberto). Amigos podem nos trair, nossos relacionamentos amorosos desabam com o tempo como castelinhos na areia, o chefe que nos paga é o chefe que nos achaca, a polícia que defende o povo é a mesma que bate na manifestação por melhores salários, o trabalhador é taxado de vagabundo quando se põe a defender seus direitos à força, “estude para crescer na vida” sai das bocas de todos os pais, mas os filhos se questionam do porque dos pais não estudarem para crescer também – e tal resposta é tão complexa que a frase dos pais se passa por mentirosa, enfim. Muitos exemplos da coisa mais óbvia: a vida demanda pensamento complexo. E o pensamento complexo demanda um esforço do raciocínio. Esse esforço cansa, ainda mais quando o que origina tais pensamentos complexos não fazem sentido para o indivíduo: o que é a política? Porque um deputado ganha tanto? O que faz um deputado? Porque temos deputados? De onde vieram, para onde vão? O que aconteceu com meu voto se eu votei no que perdeu? Não valeu? Brancos e nulos dão na mesma?

Fazer sentido. O trabalho que cansa o indivíduo faz sentido pra ele? O sujeito que faz o pesponto sabe que modelo de sapato produziu? Saberá ele manusear os outros instrumentos que geram aquele sapato? Como crescer na empresa? Para que crescer na empresa? Por que ganho tão pouco, se trabalho mais que o gerente? As coisas que demandam complexo, não fazem sentido num pensamento simples.

A lógica capitalista não demanda sentido, não demanda pensamento complexo. Não para os que produzem. Talvez para os que são detentores do capital, talvez para aqueles que detém o produto já feito, não para os que estiveram produzindo. Inclusive é melhor mantê-los num pensamento simples do que fazê-los pensar complexamente. Compreender a relação das coisas pode conduzi-los à revolta.

Por isso a educação no sistema capitalista não preza pela complexidade. As coisas tem que ter fim em si mesmas. A aula sobre o “descobrimento” do Brasil não precisa ter uma ligação com a Revolução Industrial Inglesa. Basta que se explique cada um, como uma curiosidade histórica. Se o exercício do sentido começa, a mente do estudante vai se fortalecendo e passa a buscar a complexidade das coisas. Tornar-se-á um trabalhador problemático – para o capitalismo, claro.

Logo, tal educação prepara os indivíduos para o pensamento simples. Prepara o sujeito para o trabalho simples, para a televisão simples, para os programas simples, para a diversão simples (e simplesmente oferecida a preços módicos). Não prepara para a questão. Não prepara para a subjetividade das coisas. Não prepara para o entendimento da arte com expressão pessoal. Não tem interesse em preparar.

Assistir um filme como ‘2001 – uma odisséia no espaço’ produz uma infinidade de percepções diferentes. Mas a maioria das pessoas assistiria o filme pelo seu parecer estético. Julgaria como um filme mediano, sem muito sentido. O filme é complexo em si mesmo. Demanda pensamento complexo, demanda um conhecimento estabelecido, porém não dogmático: pensamento esse que aguarda o embate para melhor ser pensamento. Não é um filme comercial, é um filme, então, cult – para poucos (por mais infeliz que eu esteja por aceitá-lo como tal).

Com a música popular acontece a mesma coisa. Melodias simples, rimas pobres, identificação com situações idealizadas são praxe na estrutura das músicas que toca nas rádios massivas. A dona de casa que está lavando roupa definitivamente não quer (e não pode, não naquele momento) se por a prestar atenção numa letra metafórica. Ela vai apreender o que sua atenção dilacerada pelo trabalho sendo executado lhe propõe. A letra de Índios, da banda Legião Urbana soa como uma estória, e não como história. E o que esperar de quem tem que trabalhar? Um duplo canal de atenção? Um para o trabalho e outro para a cultura? É pedir demais.

Os grandes produtores de “cultura” (muitas aspas aí) se aproveitam justamente disso. O nicho consumidor dessa “cultura” empobrecida é justamente o maior nicho mercadológico: a população pobre. Aquela que tem que trabalhar o dia inteiro e que chega cansada do trabalho, tão cansada que não consegue, não pode, ou não quer se colocar a trabalhar o pensamento complexo. São as pessoas desse nicho que enquanto estão trabalhando estão cantarolando a música de sucesso da rádio, sem perceber e sem se por a entender a fundo a letra. Aliás, para que entender a letra de uma música que diz

Cavalo manco, agora eu vou te ensinar
A nova dança do estado do Pará
É o Calypso que chegou para ficar
Nesse swing você também vai estar (confirmar)

Não há subjetividade, não há metáfora (a não ser que se queria muito que haja!): é um bloco de palavras que dizem aquilo que parecem dizer. Simples. E nesse e em muitos casos, vazio.

Claro, num momento de descontração, talvez aquela música citada seja oportuna, realmente é para a descontração, e não para a reflexão, que ela existe. O problema é que sua existência tornou-se um imperativo mercadológico. A produção de músicas para a descontração, no estilo citado, é um dos motes da indústria cultural, a indústria que produz cultura de forma estandardizada de modo a lucrar o quanto mais possível no processo produtivo. Observe que, deste ponto de vista, a cultura não é algo construído na vivência de uma civilização, detalhada pelas suas transformações e permanências, mas sim cruelmente acelerada, catalisada na afobação produtiva de gerar e consumir logo. Essa cultura (se é que pode-se atribuir tal qualificação à essa coisa que sai da linha de produção) gera tais músicas (e outros elementos) em escala monumental, de forma (e deforma) a suprir todo o espaço possível de exposição. A televisão, o rádio, o cinema, a literatura (talvez esse ainda seja um baluarte de resistência, mas só talvez) e outros meios de divulgação cultural, facilitam o acesso dessa produção “estandardizada”, simplificada, aos seus suportes, porque uma vez que os nichos que vão absorver tais produtos já estão domesticados a eles, maior será a venda, e o lucro. Lógica pérfida essa: alguns ganham dinheiro domesticando o pensamento de outros. O que não exclui a possibilidade de mesmo os produtores estarem domesticados, afinal, são parte da sociedade. Mas dos que podem usar essa desculpa, tais produtores e intelectuais em geral são os últimos, afinal, são eles que dispõe do método, da técnica, eles que sabem os resultados, eles que manipulam a técnica em busca de tais resultados, eles que usam a psicologia de massas, eles que usam de propaganda constante, maciça, massiva para o convencimento. Nessa lógica, vence o que convence mais rápido.

O pensamento simplista não se fecha unicamente na produção de entretenimento para a descontração, mas transforma inclusive as notícias em entretenimento para a descontração. É o caso dos inúmeros jornais (nesse caso, me refiro aos rádiotelevisivos) que, na sobreposição rápida e contínua de notícias, não abrem espaço para a reflexão. Tudo o que se passou no dia em meia hora. Além de determinarem o que é importante ser ressaltado no dia, também omitem aquilo que eles não consideram tão importante (ou pior: omitem aquilo que consideram sumamente importante, mas não para eles). Um fator que demonstra o caráter desrespeitoso que os radio e telejornais usam e manipulam as notícias é o fato de que as notícias passam por esse crivo de importância. Mas importância para quem? Para a emissora ou para os expectadores? Quem são os expectadores? Mas, quem é o público alvo? Quando se fala na queda da bovespa estamos falando para que grupo social? E quando falamos que um macaco escapou da jaula e deu um baile nos bombeiros antes de ser capturados, é de importância para que grupo? Que grupo vai ocupar parte do seu dia falando da bolsa e que grupo vai ocupar parte do seu dia falando do macaco? Porque o jornal não faz a menor questão de transformar a queda na bolsa em uma notícia importante para todos os grupos sociais? Do lado dos jornais impressos, apesar do discurso demonstrar quem e para quem se escreve a notícia, há uma vantagem para o leitor: tempo para questionar, analisar a notícia. Claro que a vastidão de notícias de um jornal diário não permite uma disposição de tempo muito vasta, ainda mais de quem trabalha o dia todo e não tem tempo para a leitura, mas ainda assim, há uma liberdade maior de elencar as notícias por sua importância (ainda que existam tantas outras menosprezadas ou omitidas).

É dessa forma que o pensamento simplista carrega os resultados positivos para o capitalismo, para a manutenção do status quo. E um dos pontos mais importantes para a transformação dessa situação é no nevrálgico ponto da escola.

Milhões de crianças entram e saem das escolas todos os dias. Questionadas sobre o que aprenderam, muitas poderão sintetizar o que foi dito na sala de aula pelos diversos professores. No entanto, se a pergunta clama associação com aulas anteriores, nota-se uma dificuldade em recordar a importância do que foi dito antes em comparação do que se sabe no agora (e que vai se esquecer ao valorizar o depois). Lembro de uma seqüência de observações que fiz numa escola municipal de Franca, onde, depois de quatro aulas de história da Revolução Russa, com ênfase no conceito de comunismo. Perguntei após tal odisséia para uma aluna o que ela entendia por comunismo, e ela foi incapaz de articular uma síntese do que tinha sido “dado” em aula. Foi “dado”, mas não foi “aceito”. Eu, por exemplo, não guardo papéis de bala, não significam nada para mim. Papel de bala é o conceito de comunismo na cabeça daquela aluna que, por não ver sentido daquilo em sua vida, simplesmente jogou fora. A errada não é ela, definitivamente.

Bater na tecla da significação na educação é repetir o discurso geral dos intelectuais que pensam na educação. O difícil é fazer. Por isso, não vou me alongar em especificar o termo (tão melhor já foi feito por Paulo Freire!), nem vou ficar especulando (mais) o que pode vir a ser isso na prática. Fato é que as escolas repetem os conteúdos das mesmas formas. Uns culpam as diretrizes nacionais da educação, outros, no estado de São Paulo, a famigerada cartilha do Serra. Mas visito escolas alternativas que, apesar de não serem absolutamente gratuitas, mostram as possibilidades de converter os conteúdos em coisas realmente apreensíveis e entendíveis pelos alunos. Também já presenciei aulas na escola pública onde o professor consegue manter a atenção dos alunos simplesmente discutindo o tema com eles. Basta isso? Não sei, minha condição de professor está no berço, mas como me disse um grande professor uma vez, o Genaro, “se nossas condições vão dar certo ou não, não sabemos, mas uma coisa é certa: o jeito tradicional já falhou”.

Do jeito que está, não dá. Ministrar os conteúdos sem interligá-los com a vida prática dos estudantes e com outras aulas e matérias é estagnar no pensamento que a memória é um arquivo onde incluímos documentos acabados, impassíveis. Imagino como deve ser complicado para o professor realizar tal empreendimento. Afinal, o capitalismo não achaca só os alunos, achaca também os professores, obrigados a dar dezenas e dezenas de aulas por semana, sem tempo para projetar suas aulas, sem tempo para tirar dúvidas dos alunos, estreitar relações com a comunidade, com a própria escola, tudo isso para tirar um salário incompatível com a importância da função que exerce (tal como dezenas de outras profissões...). Aliás, a importância da função do professor é maior para o Estado que paga ou para os indivíduos que estão nas salas de aula? A escolha entre se entregar de cabeça ou sobreviver é terrível, mas condiz com os interesses do capitalismo. Se não condissesse, não estaria ainda assim.

Fazer os alunos pensarem complexamente. Tarefa titânica? Talvez... tarefa fácil é papagaiar os conteúdos na frente de uma sala que não está entendendo nada (e muito menos fazendo questão de entender) do que se diz. Não tem para onde: se o professor tem interesse na emancipação dos alunos, ele vai à exaustão – há outra maneira? Já se disse, educar é profissão de fé. Acreditar no potencial do aluno é por outro lado acreditar no próprio potencial. A estrutura escolar também não ajuda, mas, naqueles cinqüenta minutos onde se tem cinqüenta pares de olhos voltados para você perguntando “quem é você”, a única resposta que vai conduzir ao diálogo é outra pergunta: “e vocês, quem são?”. E aqueles cinqüenta minutos podem marcar a lembrança para sempre.

Um comentário:

  1. Muito bom texto, ótimas reflexões... mas se me permite meter o "betelho", como blogueira que também sou, sei que as pessoas não se fixam em textos muito longos, então a dica que fica é pra tentar dar uma encurtadinha rsrs... Outra dica na verdade é uma recomendação. São textos muito bons: Freud: Sociedade do Espetáculo; Birman: Sociedade do Espetáculo na Atualidade; Freud: Narcisismo
    Um abraço acadêmico =P

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