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terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Acerca do Adolescente" - por Fernando Galhardo

As obras de Jean Piaget têm como objetivo abrir caminho para um maior entendimento do humano, através de estudos psicológicos mais específicos sobre as crianças, facilitando assim a ampliação e aperfeiçoamento de métodos de natureza pedagógica.

Seus estudos à respeito da psicologia infantil são marcados pela influência do campo da Genética, tendo uma preocupação maior com o desenvolvimento da inteligência e o desenvolvimento da afetividade, além da forma que os mesmos interagem sobre a criança.

Meu interesse sobre sua obra recai no capítulo referente a adolescência, o qual Piaget expõe claramente suas idéias, não tomando como marco desse estágio do Homem a maturação do instinto sexual como fator mais relevante.

É interessante notar que para Piaget, apesar do adolescente ser tomado de vários desequilíbrios momentâneos, o que será chamado de “colorido afetivo”, ele tende ao equilíbrio como parte de seu desenvolvimento. Os desequilíbrios momentâneos para os adolescentes, são devidos a expansão das suas capacidades afetivas que só serão controlados a partir do desenvolvimento de seus pensamentos, da sua inteligência.

Como exposto anteriormente, a teoria de Piaget se baseia em duas características: o desenvolvimento da inteligência (que para os adolescentes se relaciona ao domínio do pensamento hipotético-dedutivo), e o desenvolvimento de sua parte afetiva (que se relaciona ao “Eu” e a “Personalidade”, sendo para Piaget bem distintas, apesar de se relecionarem).

O domínio do pensamento hipotético-dedutivo, que segundo Piaget, desenvolve-se na criança por parte dos 11-12 anos de idade se relaciona ao fato da criança passar a construir pensamentos sobre hipóteses, sobre o abstrato e não mais apenas ao concreto, ao real. É passível de observação que os adolescentes se interessam muito mais pelo irreal, eles passam a construir mundos próprios e se colocam como mestres dos mesmos, escapando da realidade.

O Pensamento Hipotético-Dedutivo se relaciona à construção do abstrato sobre o abstrato e não do abstrato sobre o concreto, que será chamado de Pensamento Concreto. Segundo Jean Piaget: Quando o pensamento da criança se afasta do real, é simplesmente porque ela substitui os objetos ausentes pela representação mais ou menos viva, esta se acompanhando de crença e equivalendo ao real.

E mais, o próprio Piaget difere o Pensamento Concreto, ligado ao real, do Pensamento Formal/Hipotético-Dedutivo: O pensamento concreto é a representação de uma ação possível e o formal é a representação de uma representação de ações possíveis.

Para Piaget só o domínio do campo do pensamento formal/hipotético-dedutivo permite ao adolescente a possibilidade de formular teorias e sistemas, isso possibilita ao mesmo criar mundos próprios, irreais, e pensar à respeito de reformas, modificações sobre os reais. Esta é uma das grandes novidades da adolescência com relação a infância, a capacidade da “Reflexão Livre” permitida através do desenvolvimento do pensamento formal.

Outro fruto dessa “Reflexão Livre” é o egocentrismo do adolescente, de acordo com Piaget a onipotência produzida por essa nova forma de pensamento altera a percepção do jovem ao redor de si. Assim, vê-se justificável os desequilibríos momentâneos já que ele não detém controle total sobre essa nova capacidade.

Para Jean Piaget o controle, o domínio sobre essa nova capacidade só ocorre à medidada que: O equilíbrio é atingido quando a reflexão compreendeque sua função não é contradizer, mas se adiantar e interpretar a experiência. Este equilíbrio, então, ultrapassa amplamente a do pensamento concreto, pois além do mundo real, engloba as construções indefinidas da dedução racional e da vida interior.

Agora, o desenvolvimento da afetividade se dá através da formação de uma personalidade própria e da inserção do adolescente na sociedade adulta. Para isso Piaget analisa separadamente o “Eu”, que segundo ele se trata do “centro de atividade própria”, sendo caracaterizado por marcas como o egocentrismo, o inconsciente ou o consciente, da “Personalidade” que é caracaterizada pela autosubmissão do eu a uma disciplina qualquer.

Por “Personalidade” entende-se o fator que permite ao adolescente agir de modo cooperado (em oposição ao “eu” que o restringe), a “Personalidade” insere o adolescente no meio social, ela autosubmete o “eu” do adolescente a um conjunto de regras qualquer, a uma causa qualquer, nesse sentido é possível dizer que há personalidade quando existe um Lebensplan, um plano de vida, uma causa pela qual acreditar. É por isso que a adolescência é um período de discussão segundo Piaget, é um estágio que permite aos homens exporem suas idéias e discuti-las a respeito do mundo em que vivem, e de outros.

Entretanto, ao mesmo tempo que a “Personalidade” sociabiliza o adolescente, colocando-o frente a fatores sociais o “Eu” a restringe, pois a “Personalidade” encontra-se em formação. A criança segundo Piaget se sente inferior ao adulto, vendo-o como mestre. Já o adolescente graças a nova capacidade de pensamento, detendo a “Reflexão Livre” acaba por se colocar no mesmo patamar do adulto, porém a falta de controle sobre essa nova forma de pensar o agita, fazendo-o sentir como inovador, reformador, renovador. Daí o egocentrismo da adolescência.

Para Piaget a criança se insere pouco a pouco na sociedade adulta à medida que percebe as inperfeições dos mesmos transferindo o perfeito para o sobrenatural, no caso dos adolescentes os mesmos se inserem na sociedade adulta quando elaboram e desenvolvem suas teorias e sistemas no que concerne a mudanças políticas e sociais. Segundo Piaget: A verdadeira adaptação à sociedade vai-se fazer automaticamente, quando o adolescente de reformador transformar-se em realizador.

Para Entender Melhor!

Seis Estudos de Psicologia, JEAN PIAGET. Ed: Forense-Universitária, Rio de janeiro.

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