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terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Educação & Democracia" - por Junior Taz

Coloca-se geralmente que, sim, o Brasil vive um período democrático. Décadas e décadas de ditadura culminaram finalmente numa abertura política e a devolução do poder aos civis. O povo brasileiro já pode escolher livremente seus governantes, já pode ter acesso ao passado político de seus elegíveis, tem em mãos inúmeros meios de comunicação, que colocam rapidamente em suas mãos os planos de governo, as propostas, as possibilidades, e inclusive a chance de interferir nos projetos, através de votações virtuais, ou pela pressão popular. O povo já pode.

Porém, há uma dificuldade em definir a potência desse poder. A título de exemplo, um dos muitos problemas que afetam a referida potência: as camadas mais pobres da sociedade brasileira têm uma educação pública de qualidade dubitável. Uma parte significativa ainda não completa o primeiro grau, considerado básico pelo próprio Estado brasileiro. Outra parcela não completa o segundo grau, e é realmente uma minoria, uma parcela ridiculamente pequena que ingressa no terceiro grau. Creio ser dispensável dizer que a maioria esmagadora dessas pessoas que têm de abandonar (ou sequer começar!) os estudos, o fazem para darem início a uma vida de trabalho, para ajudar a família, ou mesmo sustentá-la sozinhos.

A escola, por mais defeitos que ainda carrega em sua estrutura arcaica, ainda é uma das pouquíssimas possibilidades da população pobre conhecer outras culturas e outras formas de pensar que não estritamente o de sua comunidade imediata. Tais possibilidades elevam a imaginação, e dão vazão ao desejo de conhecimento do ser humano. Quanto mais se conhece, mais vontade se tem de conhecer mais. E, se por um lado uma parcela gigantesca da população brasileira está afastada da escola por causa do trabalho, uma outra parcela está presa em tal estrutura arcaica, que não consegue abarcar a responsabilidade que a educação tem de colocar o indivíduo a par de si mesmo e dos outros. Com isso, temos aqueles poucos sujeitos, proporcionalmente falando, que terminam a escola e desejam continuar estudando.

Em sua comunidade imediata, sim, os indivíduos tem a possibilidade de lidar com a política local e trabalhar a micro-sociedade onde vivem. Mas convenhamos que esses que participam e quiçá se emancipam na política local não são todos, sequer muitos em comparação com o montante que não participa. Pelo fato de a maioria da população não conhecer as outras esferas políticas de seu município, estado, país, não participam delas como deveriam, conhecendo suas possibilidades, e suas chances. Muito disso também se dá pela complexidade do sistema jurídico brasileiro e sua vastidão de pesos e medidas.

Uma vez que os indivíduos estão subordinados à leis, ao Estado, à polícia, e todo o aparato político que comanda o país, era de se esperar que aqueles mesmos indivíduos participassem ativamente da manutenção da democracia de seu próprio país. Mas é evidente que isso não acontece. Apesar da Informação estar disponível, o acesso à ela é dificultado, desde a base cultural até a possibilidade econômica, passando pela qualidade educacional e o domínio das tecnologias, dentre outros fatores.

Esses e muitos outros âmbitos estão interligados, é claro. Por isso julgo o problema como estrutural. Seriam necessárias mudanças na estrutura, mas mais necessária do que isso, um mínimo de vontade política dentre aqueles que estão no governo.

Como, legítimos representantes do povo, moldados pelas suas dificuldades e sonhos, não conseguem agir dentro do quadro político? Porque temos sempre a impressão de que entrar para a política é pedir para ser corrompido? Porque, mesmo conhecendo o passado político corrupto de uma série de políticos, o povo os recoloca para mais uma série de falcatruas? Tais respostas, e muitas outras perguntas, estão envoltas em pelo menos uma coisa em comum: precariedade de uma cultura política popular.

Tal cultura política não deveria vir só da escola, mas com certeza deveria ter nessa instituição um baluarte. Mas, a já citada precariedade da educação e do aparato daquela instituição deixam evidentes que, se a escola tem dificuldade de passar o famigerado conteúdo normal, quem dirá utilizar-se de temas transversais e de se colocar como estimuladora do senso crítico?

É nesse sentido que caminham minhas pesquisas, meus estudos, e minhas práticas. Não imagino que vivamos numa democracia, no sentido mais intrínseco do termo. Definitivamente a grande maioria da população brasileira não se utiliza da democracia de forma responsável, nem para si, nem para a sociedade, e não porque simplesmente não quer se utilizar dela, mas porque não foi preparada para usá-la. O governo, a escola, as grandes cadeias de comunicação, a universidade e outras instituições não querem, não podem ou negligenciam (cada qual com suas medidas) o seu poder de ajudar a disseminar uma cultura política. Talvez porque uma cultura política efetivamente democrática clame por indivíduos críticos, emancipados. Péssima receita para a manutenção do status quo.

A educação escolar é uma das mais importantes ferramentas no esforço de formar consciências críticas. Mas também há o envolvimento social do indivíduo, sua família, seus meios. A escola pode e deve se unir à realidade da comunidade, abarcando as famílias e os indivíduos, deve fazer parte do sistema que faz a consciência reconhecer-se enquanto consciência de si, e dos outros.

É também na escola que os temas da vida prática do aluno devem ser colocados. E aquilo que parece não ter relação direta, sempre o tem, e é necessário investigar tal ligação, esse também é papel de todos aqueles que se chamam educadores. A significação tem de ir da explicação do troco da quitanda até a função do presidente que ele colocará no poder; tem de ir do funcionamento de uma bomba nuclear que matou milhares de pessoas até a dinâmica da doença que ameaça epidemia; tem de ir dos preconceitos de gênero até a responsabilidade individual e coletiva de uma guerra mundial.

Enfim. A educação é movimento, é continuidade, é tentativa, construção. Em virtude do fato dos indivíduos alterarem o meio social onde vivem, e vice versa, a educação tem de se adaptar às mudanças, e aprender a trabalhar com elas. Não necessariamente deve simplesmente aceitar as mudanças, mas problematizá-las, mostrá-las desarmadas e possibilitar a reflexão sobre, por aqueles que efetivamente participam e criam as mudanças: os indivíduos.

Um comentário:

  1. Pra quê se ter uma democracia, uma liberdade de escolher os governantes e ter voz, se esses mesmos não escutam e as pessoas também não vão atrás de seus direitos. Educação de qualidade deveria ser um dos principais pontos de um governo que se diz preocupado com o povo, e também um dos motivos para que a população colocasse sua opinião.

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