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terça-feira, 18 de maio de 2010

Considerações sobre as Propostas Curriculares de São Paulo - por Gabriel Narkevicius

Inicialmente, gostaria de dizer que este texto se baseia em conclusões minhas a partir de duas discussões sobre este tema, realizadas em dois dias diferentes de aula da disciplina de Prática Geral I pelos estudantes da XLV Turma de História Diurno da UNESP Franca.

Qual a efetiva melhoria que temos no processo de ensino, quando temos algo que, ao invés de atuar como uma ferramenta de auxílio ao professor, se torna o fio condutor de suas aulas? O que muda quando uma ferramenta que possui, em seu próprio nome, a palavra ‘proposta’, se torna a base de avaliação do processo de ensino e aprendizagem, como também da abordagem dada aos conteúdos dados em sala pelo professor? O que temos por trás das Propostas Curriculares do Estado de São Paulo?

Ela homogeneíza o ensino no Estado? Sim, independente disso ser bom ou ruim. Ela padroniza o cronograma dos conteúdos temáticos a serem ensinados, mas infelizmente não pára por ai. Ao invés de apenas estabelecer este padrão acima, e digo padrão enquanto algo básico para todos, mas sem que o professor deva se limitar apenas a ela, a ‘Proposta’ vai além e faz justamente o oposto.

Pode-se perceber que a sua forma de abordagem tende a fazer com que o professor se apegue neste padrão enquanto suficiente para as aulas. Temos uma esquematização do que ensinar e como ensinar, que já prevê, dentro do próprio programa, as competências e habilidades que o estudante adquirirá após a aula de determinado conteúdo. Em outras palavras, a proposta já pressupõe que o estudante captará a relação entre os conteúdos programados, alcançando os objetivos propostos pela cartilha. E digo isto ainda sem ter levado em conta que, como se já não bastasse a existência desta 'atração' em favor de seu uso exclusivo em sala, esta questão ainda envolve outros dois problemas que só agravam a situação.

O primeiro parte da base estrutural do processo de ensino, diz respeito à ausência de uma consciência, por parte do professor, sobre sua própria profissão e seu sentido. Grande parte dos professores, públicos ou particulares, não possuem uma consciência efetiva sobre o sentido de ser professor, uma consciência de uma classe, como já abordado neste blog, com uma função de formação crítica para com o indivíduo, base da sociedade. A prova desta questão é vista todos os dias em sala de aula nas escolas, pela forma com que os professores realizam suas aulas, praticando a mera reprodução de conteúdo, sem nenhuma relação com a realidade do estudante.

A predominância desta forma de agir pelos professores acaba fortalecendo e muito a existência de uma cartilha, pois estes mesmos professores acabam se apegando a ela, pois está tudo ali, ‘mastigado’. Não vou negar que existam professores que fujam a essa maioria, e aproveito para parabenizá-los por isso, mas infelizmente o numero destes professores é pequeno quando comparado ao resto. Surge então uma relação de troca, onde a passividade dos professores faz valer a existência de uma cartilha, e ao mesmo tempo esta cartilha perpetua esta passividade.

O segundo problema existente já se opõe ao primeiro em relação à origem, pois ele vem de cima para baixo, das instituições do sistema educacional para o professor. Nos Cadernos referentes às direções das escolas, é apresentada a necessidade de ‘convencimento’ que estes mesmos diretores devem fazer a favor da utilização da cartilha em sala de aula pelos professores. Realiza-se uma imposição indireta, uma pressão do sistema de ensino sobre os professores para o uso da cartilha, que, somado à passividade e à forma de abordagem, permitem que as aulas se tornem uma mera reprodução dos conteúdos estabelecidos pela Proposta.

Bom, ao fazer este esquema, os organizadores da Proposta se esquecem de um único detalhe: o estudante. Na verdade, não somente o estudante, mas também sua realidade, sua vida. A forma com que se estabelece o ensino a partir desta cartilha faz com que a realidade do estudante fique distanciada do que é trabalhado em sala de aula. Não somente a realidade do estudante é deixada de lado, como a necessidade e o interesse do estudante em estar ali.

A abordagem definida pela Proposta parte de considerações sobre a formação de uma cidadania que não se relacionam com a realidade ou com a consciência do estudante, mas sim com uma consciência coletiva sobre um individuo inserido em um contexto amplo de sociedade. Em outras palavras, não se forma uma consciência individual, mas sim a manutenção de uma consciência coletiva que faz valer as mentalidades e práticas predominantes na sociedade.

2 comentários:

  1. Esta cartilha além de induzir o professor ativo(crítico) a um determinado sistema de aulas faz com que o professor passivo se limite às mesmas aulas em todas as turmas que lecionam, excluindo, assim, as particularidades dos indivíduos.

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  2. A cartilha, em verdade, não afeta o professor dedicado que quer fazer a diferença. Afinal, as escolas recebem bonus por rendimento e um professor dedicado e militante vai apresentar melhores resultados que aquele que se prende a cartilha.
    A desmobilização dos professores, por mais triste que isto seja, é salarial, o professor recebe por aula, só que o trabalho do professor se resume a dar aula? Ou envolve preparação e estudo? se um professor trabalha 20 horas e ele for dedicado, ele trabalha no mínimo 40. A cartilha facilita tudo, e com o cansaço muitos professores se sujeitam à cartilha.

    Eu, pessoalmente, defendo a desprofissionalização do professor, conhecimento não deve ser vendido e defendo a desvinculação entre a escola e o Estado, para o Estado, um povo ignorante é vantajoso. Defendo o fim da escola particular, que considero treinamento empresarial. Defendo a educação do povo para o povo e pelo povo. Mas isso já é outra história.

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