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terça-feira, 20 de abril de 2010

Estado e Educação Popular - por Junior Taz

Educação é algo que vem de fora. Pode ser encarada como fragmentos da cultura humana que, nem sempre de forma ordenada, são repassados aos indivíduos que participam de determinada sociedade; ou seja, não sai do indivíduo, mas no máximo é complementada por ele.

Em sociedades ditas mais simples (mas que nós sempre pensamos “puxa, como seria difícil viver como eles!”) a educação tem um viés mais tradicional: o repasse dos fragmentos da cultura humana são feitos sob medida das necessidades dos indivíduos em seus graus de participação naquela sociedade; pode-se muito bem dizer que isso é uma educação estamental, mas não penso que os outros setores tenham intenção de alterar a situação: é tradicional, mudar isso faz perder o sentido.

Já nas sociedades ditas mais complexas sabe-se que o Estado geralmente se apodera do monopólio da violência. Se sabe por dedução que essa violência não é meramente física, ou da ameaça, mas também a castradora violência do monopólio de um viés educacional – mantenedor do status quo. Pode-se dizer que a educação privada faz o mesmo, mas ressalto que não é o que está sendo dito que importa, mas o modo como está sendo feito, ou seja, de cima pra baixo, e massivamente – formando massas, e não indivíduos.

Por educação libertária penso nas possibilidades, sempre extremamente difíceis, de extrair da mais rústica ostra a mais fantástica das pérolas. Fazer o ser humano enxergar-se enquanto indivíduo, enquanto ser com possibilidades de ativar a sociedade, de alterar seu status mesmo fora do sistema, mesmo intentando romper com o sistema. E isso não se impõe de fora: mostra-se alternativas, exemplos, motivos, e dessa maneira sempre tão singela – pela conversa, não pela aula – é que se mostra a essência humana na existência sempre subjugada.

Por isso o Estado não promove uma educação libertária: seria contra-senso, e seu suicídio. O Estado sobrevive das políticas massivas, do pensamento coletivo que tende ao irracional (não me entendam mal: irracionalidade não tem nada a ver com burrice): promover uma educação onde cada indivíduo entenda sua existência como expressão do ímpeto de alteração é um perigo para um sistema apoiado em corrupção, paternalismo, clientelismo, falsidade e simulação de democracia.

Indivíduos ativos pensam, e quando pensam questionam. Se não acham as respostas eles não tem nojo de enfiar a mão na lama em busca delas.

Já ouvi dizerem que o Estado promove uma educação, senão democrática, ao menos próxima disso, porque tenta mostrar o máximo de caminhos – expressão das matérias que aprendemos nas escolas - tão diversas, não é? Fora a inserção do simulacro de sociedade que se promove nas salas de aula – pois repudio completamente tais interpelações!

Não vejo democracia alguma em obrigatoriedade de matrícula nas escolas que o Estado entende por oficiais. Também não é democracia no sentido que se importa do termo que haja inúmeras matérias se elas são meramente tecnicizadas! Não se aprende História para questionar as ações humanas, mas para se obter curiosidades dos grandes nomes! Não se aprende geo-política para criticar os acontecimentos mundiais, mas para saber o que passou no jornal do ano retrasado, a matemática começa com laranjas e quando nos damos contas são laranjas irracionais, a física e seus carros e colisões, até mesmo o ensino da nossa língua não passa pela lógica: prioriza-se as exceções, quando são excepcionais! Esperar que cada aluno pense por si mesmo é desvalorizar a comodidade e a preguiça do espírito humano frente à tela de uma televisão. É obrigação dos EDUCADORES (e não apenas dos profissionais da educação) tomarem partido para ajuda-los a questionar para entender. O Estado suicida é um sonho.

Quanto ao absurdo do simulacro social numa sala de aula é o prazer dos sadomasoquistas. Apesar de que no mundo social que se espreita hoje para a grande maioria das pessoas, a sala de aula é uma lembrança cômoda: os professores fingem que ensinam, sozinhos, na frente da sala, os alunos fingem que aprendem, sozinhos, em suas carteiras, e é disso que se vive no depois: falar sem ser ouvido, escutar sem ouvir. Mesmo a crítica é desvalorizada, não é cultivada. Preguiçosamente enterrada nas dores da ignorância, regada com o medo do rechaço – quase sempre certo, ameaçadoramente próximo. Até a arquitetura das salas é opressora. “Cinqüenta alunos calados” não é, de forma alguma o prelúdio de uma sociedade deliciosamente tentadora, apenas o sonho de um gerente de alguma fábrica de sapatos, de roupas, ou qualquer coisa do gênero.

Enfim, não me alongando muito mais, pois o tema é prolífico e em grande parte, intuitivo, ressalto a importância da ação dos EDUCADORES, para uma educação contrapontual à ação da educação FORMAL do Estado: que seja educação informal o nome, contanto que esteja disposta a arrancar dos olhos, ouvidos e bocas dos alunos para torna-los estudantes para que mais que aprendam, que compreendam o mundo a fim de muda-lo antes que seja tarde demais. Fugir disso é suicidar-se em oferenda ao Estado.

2 comentários:

  1. Muito bem colocado.

    Vale apenas ressaltar que este molde de educação continua nos níveis superiores, e podemos facilmente tomar como exemplo a UNESP Franca, a qual temos maior contato.

    Percebemos que uma grande maioria, carregando o estandarte da sua individualidade, veste-se igual a todos, frequenta os mesmos bares e festas que todos, escuta as mesmas músicas que todos.

    Devemos criticar e combater a educação vigente, mas não podemos deixar de considerá-la genial para seus propósitos! A população contente com a sua individualidade não toma consciencia da sua massificação, não percebe que sua individualidade é igual a de todo mundo. Uma democracia onde todos são instruidos a pensar igual e a votar igual é uma democracia?

    Espero que minha idéia tenha ficado compreensível. Tenho um pouco de medo de estar escrevendo justamente o que o "grande irmão" esperava que eu escrevesse.

    Abraço a todos.

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  2. Toda educação é política. Separar uma da outra é fazer com que a educação perca sentido e, assim como toda educação é política, toda educação também deve ter um sentido. Infelizmente o sentido político dado atualmente à educação formal (pública ou particular) é voltado para a não formação politica. Apesar disso, o sentido de "política" dado à educação atual nao deve, em nenhuma circunstancia, ser encarado como o único sentido político que pode ser dado à educação, e o texto escrito pelo Taz apresenta bem esta idéia.
    Quando o Evandro cita sobre o ensino superior, a meu ver é justamente nele em que a discussão sobre sentidos políticos para a educação deveria ter intensidade. Não por parte da instituição pois, a excessão de alguns poucos professores, não convém realiza-la, mas por parte da base de formação dos professores, ou seja, dos próprios estudantes, mas como já dito, a própria mentalidade dos estudantes é viciada, reproduzindo a consciencia coletiva interiorizada do individualismo.

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