Educação se faz discutindo!

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segunda-feira, 1 de março de 2010

*** Aê pessoal, taí o texto que publiquei no blog www.discussaoestudantil.blogspot.com, por ocasião da movimentação de esclarecimento dos bixos, ante a aula magna promovida pela vice-diretoria da UNESP (proferida pelo Aldo Rebelo) ***

Para quem estudar? Eis a pergunta que nos motiva. Não se trata de uma pergunta retórica ou de uma simples frase de efeito, mas – para nós – o cerne da discussão sobre a educação, em todos os sentidos. Ela é central, principalmente quando nos damos conta de que a resposta da pergunta “para quem estudar” não coincide com a resposta da pergunta “para quem estamos estudando”.

Deixando mais claro, para quê serve o vestibular? Para que se ingresse numa universidade, ou numa escola técnica, enfim, o vestibular é um processo de seleção dos melhores preparados para fazerem parte do universo do ensino dito superior. Mas, para quem serve o vestibular? Ora, aqueles que disserem que o vestibular é uma oportunidade de estudar mais, e se aprimorarem estão se enganando. Não que não aprendemos nada nos cursinhos pré-vestibulares da vida, mas é um fato que todo aquele exercício de memória só tem uma finalidade: o vestibular. Logo, o que se aprende não é pra vida, não agrega qualidade ao ser humano, mas serve apenas como passaporte: tudo que não é utilizado será apagado, é a nossa memória que faz isso!

Mesmo no ensino fundamental e médio, o que estamos aprendendo? O papel do ensino público, qual é? Nos preparar para o vestibular? Nos preparar para o mercado de trabalho? Formar “cidadãos” obedientes e mudos? Ou servir como uma creche para que nossos pais possam trabalhar sem se preocupar conosco (a televisão cumpre a outra parte da educação, depois da escola...)? Quanto ao vestibular, é muito claro para aqueles que, como eu, passaram pelo ensino fundamental e médio, que o ensino público e seus métodos não estão somente arcaicos como não atenderiam com simples reformas por sobre a casca. As reformulações no ensino médio para atender ao vestibular são inúteis, porque é intrinsecamente excludente, e tais reformulações não fazem nada além de ampliar o número de concorrentes para o PROUNI.

Será que estamos estudando num ensino médio que nos forma para o mercado de trabalho? Para nos desiludirmos quando arriscamos entrar no vestibular por dois anos seguidos e finalmente termos que desistir e irmos trabalhar para ajudar nas contas da casa? Por quê se fala tanto que no Brasil falta mão-de-obra especializada? Para que ficamos tantos anos nos ensinos médio e fundamental se não é pra sairmos com uma bagagem realmente útil para nossa vida? Por que não aprendemos a estrutura da política no Brasil, por que não aprendemos a debater, a discutir, a formular questões, a formar opinião, a escrever o que sentimos e não o que deduzimos de outro escrito? Se precisamos de um cursinho pra entrar na universidade, o ensino que se diz básico não está cumprindo sua função básica.

E, afinal, porque gerações e gerações de brasileiros nascem e morrem apáticos, reclamando baixinho dos problemas, mas sempre aguardando que alguém faça as coisas por eles? Será porque introjetamos nosso Estado paternalista no nosso estado de apatia? Porque a escola não nos ensina as vias para exercermos nossa veia democrática, nesse Estado que se diz democrático? Como usufruir da palavra aquele que não teve como aprender a manipulá-la?

Se precisamos de cursinho para entramos na universidade, alguma coisa está MUITO errada, afinal, a função da escola, ao nosso ver, era nos preparar para a vida, e o vestibular deveria ser reflexo dessa preparação, e não um exercício de memorização. Alguns podem dizer que o vestibular está se humanizando, que a interdisciplinaridade tira o caráter “decoreba” da prova, mas no fundo, ele continua exercendo a mesma função sob os mesmos parâmetros: é um funil, onde aqueles com melhores condições (a primordial é a financeira!) estão na ponta mais fina, enquanto a esmagadora maioria continua se digladiando, numa competição entre pessoas que tem o mesmo direito: o de usufruir de uma universidade pública, e de poder cursá-la (aqui, quero dizer usar da permanência estudantil...). Não vejo como pessoas que estudaram em escolas particulares, que desde cedo preparam-se para o vestibular, que tiveram condições não só de pagar por toda a experiência de ensino preparatória, mas como ainda teriam para pagar universidades particulares, podem “competir” em pé de igualdade com pessoas que estudaram no ensino “confuso” das escolas públicas, que muitas vezes não tem como pagar por um cursinho, que muitas vezes está apenas “arriscando a sorte” de entrar numa universidade pública. Não vejo um país de igualdade quando olho para a estrutura que culmina na disputa por vagas na universidade. É um país de todos, mas que cada um se ajeite no seu estamento.

Obviamente que o discurso da universidade pública é o discurso da elite que entra de mergulho nela. É óbvio também que não será a universidade pública que vai promover, do alto de seus mais altos escalões, discussões que possam gerar frutos palpáveis. Quando há auto-crítica de cima, ela pára em cima, nós mal podemos ouvi-la. É aí então que entra o papel dos alunos, dos funcionários, e dos professores que não se conformam com essa situação. A discussão não precisa de permissão para se desenvolver. Todo mundo pode questionar, todos podem levantar a voz, todos podem se agrupar, se reunir, se filiar, se juntar à grupos de extensão, à grêmios estudantis, e fazer-se ouvir. No ensino público, ao menos do qual eu participei, não me “lembraram” o que eu podia fazer com as minhas ações, não fomos educados para participar, mas para assistir.

Deveríamos estar estudando para nós mesmos, para aprendermos sobre a vida em comunidade, sobre a natureza, sobre o funcionamento das coisas, mas na verdade estamos aprendendo para sermos avaliados. Não interessa o que aprendemos, mas a finalidade do que aprendemos; não é a qualidade do ensino, mas a quantidade de coisas que conseguimos colocar dentro da cabeça. O que é importante para a vida é dispensável para o vestibular.

A importância de cursinhos comunitários, populares, é incomensurável num mundo onde o ensino é mercantilizado, reduzido à técnica, comprimido em perguntas e respostas. Eles não apenas ensinam para passar no vestibular, eles abrem portas para o pensamento crítico. É uma porta de entrada para aqueles que nunca pararam para pensar no coletivo. Logicamente isso depende dos professores, da estrutura do cursinho e tudo mais, não é apenas pelo fato de ser comunitário que não possa estar obedecendo à lógica da educação quantitativa. Mas a tendência é a funcionalidade do conhecimento, a ecologia das esferas de conhecimento. E aqueles estudantes que souberem aproveitar as oportunidades subjetivas de um cursinho comunitário estarão aprendendo a exercer sua condição de sujeito coletivo, sujeito de fala, poderoso em suas ações, pois afeta aos outros. Chegarão na universidade dispostos a questionar o porquê de tudo aquilo que passaram, e procurarão levar o pensamento crítico aos outros estudantes, o pensamento do “para quem” eles estão estudando, realmente.

3 comentários:

  1. Vívemos em um país que se esqueceu a muito de quem é o seu "público" alvo. Vívemos no país Brasil ou na empresa Brasil?

    No país Brasil todos deveriam ter acesso a educação pública, TODOS significa "qualquer pessoa que queira, independentemente de sua origem ou classe social".

    Na empresa Brasil, vale a negociação, o lobby e os acordos financeiros (como o PROUNE), onde a elite financeira garante que vai se manter também como elite intelectual sem concorrencia oriunda da plebe, e ainda garante que a grande empresa da educação seja um investimento seguro, já que a plebe vai garantir salas cheias nas universidades particulares e a classe média vai garantir as salas cheias nos objetivos e cocs da vida.

    Infelizmente, vivemos em uma empresa...

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  2. Primeiramente mando os parabéns para quem escreveu esse texto, ficou bastante crítico e contudente.

    Esses problemas como a mecanização do homem não vejo apenas na educação, ele é um processo global. O tipo de educação imposta pela sociedade nada mais é do que um reflexo dos próprios valores sociais, pautados na produtividade e coisificação da pessoa, sem levar em conta o indivíduo como um ser dotado de motivação própria.

    Temos escola apenas para formar novas mercadorias que pautam sua vida no consumo. É o tal do "Compro, logo existo"

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  3. Ah, thiago, obrigado, fui eu quem o escrevi, o TAZ...

    concordo com os dois... vivemos numa situação no mínimo engraçada: com tantos direitos a serem conquistados o que se vê são ocupações de shoppings por massas famintas pelo direito de CONSUMIR!!!

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